Como diferenciar doença degenerativa e infecção na coluna com ressonância magnética

Paciente com dor na coluna lombar

Em um Centro de Diagnóstico por Imagem (CDI), pelo menos um terço dos exames de ressonância magnética (RM) são da coluna vertebral.

A maioria dos pacientes submetidos a esses exames queixa-se de dores lombares, cervicais e torácicas e a principal suspeita clínica é a hérnia de disco.

No entanto, a avaliação das imagens de Ressonância quase nunca revela hérnias de disco que justifiquem o quadro clínico reclamado pelos pacientes.

Cabe ao médico radiologista encontrar outras lesões dolorosas que não sejam protrusão ou extrusão de discos intervertebrais.

Nem toda dor é hérnia de disco

Outras doenças da coluna vertebral podem ser dolorosas, simulando a presença de hérnias de disco.

Existem diversas lesões ósseas que causam crises álgicas severas mesmo sem contato com as raízes neurais:

  • Hérnias intravertebrais nas placas terminais ou nódulos de Schmorl;
  • Edema do osso medular dos planaltos vertebrais com ou sem achatamento (colapso vertebral);
  • Artrose e sinovite de articulações facetárias.

Por outro lado, doenças expansivas e infiltrativas comprimem o tecido neural e causam dores radiculares:

  • Metástases ósseas de tumores ainda não diagnosticados;
  • Tumores primários como o schwannoma e o mieloma;
  • Aneurismas e outras malformações vasculares.

Por fim, o estiramento dos músculos perivertebrais e as lesões ligamentares relacionadas ao esforço físico são comuns e justificam frequentemente as queixas dos pacientes.

 

Classificação de Modic das doenças degenerativas da coluna

As alterações degenerativas do osso medular podem ser dolorosas e estão presentes na maioria dos exames de coluna vertebral de indivíduos adultos, principalmente quando há história de sobrecarga mecânica do tronco e dos membros, trabalho braçal e posturas anti-ergonômicas.

O envelhecimento patológico (degenerativo) da coluna na ressonância magnética foi inicialmente descrito e classificado por Modic em 1988.

Segundo a classificação, a fase inicial da doença (Modic tipo I) é facilmente reconhecida como edema ósseo medular em qualquer protocolo moderno de ressonância magnética.

O edema ósseo representa microfraturas e inflamação aguda restritas aos planaltos vertebrais, porém a proximidade com o disco intervertebral e a inervação comum geram sintomas muito semelhantes a uma hérnia de disco.

Ao contrário da hérnia de disco grave com estenose vertebral, o tratamento para as alterações degenerativas edematosas é conservador e se utiliza da clássica combinação:

  • Repouso relativo;
  • Anti-inflamatórios e analgésicos; e
  • Fisioterapia.

O resultado do tratamento quase sempre é a melhora dos sintomas após algumas semanas, a resolução do edema e a transformação histológica para a fase II da doença, descrita como substituição adiposa do osso medular.

Por definição, as categorias II e III de Modic são indolores e não incomodam os pacientes.

Para fim didático, enumero abaixo a classificação de Modic e a apresentação nas sequências de Ressonância Magnética:

  • Modic tipo I ou edema ósseo medular: hipersinal T2, hipossinal T1 e hipersinal STIR;
  • Modic tipo II ou substituição adiposa: hipersinal T2, hipersinal T1 e hipossinal STIR;
  • Modic tipo III ou esclerose óssea: hipossinal T2, hipossinal T1 e hipossinal STIR.

 

Espondilodiscite infecciosa ou degenerativa?

Em algumas situações, é possível detectar além do edema ósseo nos planaltos vertebrais, o hipersinal T2 e STIR no próprio disco intervertebral.

Essa condição é incomum e muito preocupante, principalmente em pacientes muito sintomáticos.

O disco envelhecido sofreu desidratação e, portanto, deve apresentar hipossinal em todas as sequências de RM, principalmente naquelas ponderadas para líquido (T2, DP e STIR).

A presença do brilho “inflamatório” levanta a possibilidade de existir infecção ativa, que se inicia no disco e progride para o osso adjacente, denominada espondilodiscite piogênica (ou tuberculosa).

O tratamento para a doença degenerativa da coluna não funciona em casos de espondilodiscite infecciosa.

A intervenção na doença bacteriana deve ser feita com antibióticos de amplo espectro, por vezes com necessidade de drenagem cirúrgica e internação hospitalar prolongada.

 

O erro diagnóstico pode custar muito caro

Devido à disseminação hematogênica da infecção vertebral e a sua natureza agressiva, o diagnóstico precoce e o pronto tratamento são essenciais para interromper a progressão da doença.

Sem tratamento específico, a espondilodiscite simples se transforma em doença óssea com deformidades graves, fraturas patológicas, abscessos paravertebrais e até infecção das estruturas neurais (meninges, raízes neurais e medula espinhal).

O diagnóstico diferencial entre espondilodiscite piogênica (ou tuberculosa) e doença degenerativa inflamatória (Modic tipo I) é difícil: as sequências rotineiras dos exames de ressonância não são suficientes e o uso de meio de contraste paramagnético (Gadolínio) não ajuda.

Além disso, a história clínica disponível para o médico radiologista é insuficiente, na maioria dos casos, apesar da entrevista pré-exame e da existência de um pedido médico.

Nenhum médico radiologista deve excluir a possibilidade de espondilodiscite infecciosa se existirem queixas de febre, infecção bacteriana recente ou imunossupressão.

Quando não se conhecem os sintomas do paciente, o único caminho para o diagnóstico é utilizar ferramentas adicionais do estudo de imagem e desconsiderar a consagrada soberania da Clínica Médica.

 

O Sinal da Garra é essencial para confirmar que não há infecção

Recentemente, definiu-se um novo sinal radiológico que permite excluir a possibilidade de infecção na coluna vertebral, envolvendo disco e osso medular: o sinal da Garra (do inglês: “Claw Sign”).

Em pacientes sintomáticos com extensa doença inflamatória aguda espondilodiscal, deve ser realizada uma sequência adicional, ponderada em Difusão (DWI) no eixo sagital.

A morfologia em DWI do osso inflamado permite excluir ou confirmar a possibilidade de doença bacteriana em atividade.

Em comparação às sequências T2 e STIR, a presença de estreita faixa bem definida de hipersinal DWI, entre osso inflamado e osso sadio, confirma a natureza insidiosa e degenerativa da doença vertebral.

A ausência do referido padrão de imagem, sinaliza doença caótica, rapidamente progressiva e, portanto, infecciosa.

Sinal da garra na ressonância magnética diferencia infecção de doença degenerativa

A acurácia desse sinal radiológico, em alguns trabalhos científicos recentes, alcançou o percentual espantoso de 95 a 100%.

A lógica do sinal da Garra fundamenta-se na histopatologia da infecção óssea e sua tradução nas sequências de ressonância.

Segundo os estudiosos, a osteomielite progride de maneira rápida, destrutiva e desorganizada, enquanto as alterações degenerativas apresentam evolução lenta, organizada e gradual.

 

Um algoritmo simples para a prática diária

Apresento aqui um algoritmo simples que permite a adequada tomada de decisão frente a um exame de ressonância de coluna que fuja da rotina e demonstre sinais sugestivos de doença infecciosa.

Trata-se de adaptação e tradução livre do algoritmo proposto no estudo de Patel et al.:

Algoritmo de avaliação do espondilodiscite na ressonância magnética

 

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